sábado, 30 de maio de 2020

Banco dos Velhos (crônica)

                                                                                               Para Edmilson Amorim
                                                 

Banco dos Velhos - Praça dos Ferroviários - Iaçu -Bahia BR


Todas as noites um grupo de senhores se reuniam naquela Praça, conhecida como Praça dos Ferroviários. E ali os mais diversos temas eram discutidos, variavam entre futebol, mulher e política. Todos sabiam que aquele banco tinha dono, com todas as letras “Banco dos Velhos”.
Como espécie de ritual, um se achegava, esperava o outro e mais outros. Quando um demorava logo o celular era usado, a reunião no “Banco dos Velhos” acontecia.  E não é que a pequenina cidade Iaçu, os velhos aumentaram? Não se sabe quem, mas de repente,  do lado daquele banco, um outro banco apareceu. Ficou estanho dois bancos, um juntinho do outro como se fossem dois namorados.
De repente, um disse que o outro disse que havia um vírus lá longe... Agora, além do futebol, mulher, política entrou mais um assunto na roda de conversa, o tal vírus que está atacando os velhos. E os vídeos humorísticos com o tal do corona iam sendo circulados, talvez, com aquele desejo oculto de tudo não passar de uma piada de mau-gosto. Não foi. Sorrateiramente, o vírus, conhecido como COVID 19 chegou naquela pequenina cidade. A pandemia que assolava o mundo não tem cabresto, nem tem freio, nem muito menos ideologia política ou religiosa. Devastando sonhos, o vírus corre o mundo desenfreado.
Isolamento social, máscaras, álcool em gel, quarentena são usados para tentar impedir a entrada no vírus. Os velhos correram da Praça dos Ferroviários, e o vírus inicialmente, ganhou um  apelido “caça-velho”, isso porque achavam que o alvo eram os idosos. Ah, quanto engano! Ele não faz seleção antes de atacar, ninguém está imune, sejam novos ou velhos, gordos ou magros, adultos ou crianças. Escolas fechadas, crianças escondidas, silêncio, muitos silêncios nas ruas.  Mas de todos os silêncios, o mais gritante é olhar para o “Banco dos Velhos”.


                             Elisabeth Amorim


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