Elisabeth Amorim |
É muito bonito apreciar a arte de alguém. E fiquei alguns minutos observando um jovem que escalou dunas no Parque Nacional de Jericoacoara(CE) para na metade do caminho fazer o nome com os pés em letras garrafais, associado ao nome de outra pessoa, naturalmente para registrar e compartilhar o quão grande é o seu amor, capaz de escrever na areia. Já pensou se amada vier conferir o registro e só encontrar as pegadas?
Fazer o nome na areia é uma tarefa cansativa, pois as dunas são movediças, exige habilidade e equilíbrio e mais uma série de competências para que a arte final fique apresentável visualmente. No entanto, todo aquele trabalho tem um prazo curto de validade, a natureza juntamente com os pés humanos se encarregam de apagá-lo rapidinho, e toda a energia gasta foi em vão.
Não esperei o final daquele trabalho, mas iniciei um outro que resultou nesse texto, um registro autossustentável. Enquanto ele escrevia na areia, observava que lentamente os pés agiam, formavam as letras… eu pensava: Quanta competência desperdiçada! Às vezes, agimos do mesmo modo daquele rapaz, insistimos em deixar nossa marca na areia e esquecemos o quanto a natureza conspira a favor do vento.
Em vez de escrever na areia, enfrente as dunas! Suba, desça, pule, escorregue. Porque as marcas que você deixa na areia se misturam com outras marcas, inclusive com as marcas do vento e da chuva. O seu nome na areia será apagado tão rapinho, às vezes, antes de você chegar a letra final. Agora quando você aprende a ser inesquecível para alguém, isso nem o vento, chuva, pegadas são capazes de apagar as suas marcas . E se oportunidade tivesse diria aquele jovem: Não deixe marcas na areia porque isso, nós, artistas das palavras, fazemos diariamente…
Elisabeth Amorim
Jericoacoara/ 2019
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