Porto Seguro/BA |
Pode parecer uma brincadeira ouvir uma frase como essa que
intitula o texto, mas foi exatamente assim que ouvi recentemente em Porto
Seguro: “- Por favor, me ouça... eu não quero dinheiro!”
Um homem parado na
Passarela do Álcool abordando os transeuntes com essa frase. Um dado curioso é
que ninguém parava para ouvi-lo. E eu
seria mais uma na multidão que desviava daquele homem, mas parei , precisava de
material para os meus textos. E graças a
essa parada que esse texto chega até você.
Ele olhou-me e disse:
“_ Nem se preocupe, moça. Eu não quero dinheiro!” Agradou-me
a sua fala, uma cinquentinha ser chamada de “moça”, mas
prosseguindo... “ – Eu só quero que você
vá até a padaria e compre dois pães para mim...”
Eu de imediato sorri, intimamente pensei: “- Que golpe!” Eu voltar para comprar pão para aquele desconhecido?
Ele só poderia estar de gozação comigo. No entanto, perguntei quanto seria
necessário para os pães que ele
precisava, e ele deu o valor, abri a bolsa e
peguei uma quantidade maior que ele falara, e veio a surpresa:
“_ Eu já disse que não quero dinheiro! Eu só estou
precisando de pão!”
Foi a gota d’água! Disse
a ele que não era da cidade, não sabia onde encontrar a padaria, e se ele quisesse
comprar, eu daria o dinheiro, mas eu não iria
voltar. Ele meio contrariado, pegou o
dinheiro, resmungou a falta de tempo das pessoas e eu seguir adiante, mas ele continuou no mesmo
lugar com o mesmo discurso:
“- Eu não quero dinheiro... por favor, pare um pouco e
ouça...”
Meu filho que estava me acompanhando disse o que eu havia
pensando antes:
“_ Que golpe!”
Elisabeth Amorim na galeria de arte- Porto Seguro/BA |
Mas, aquele homem mesmo ficando parando feito estátua, acompanhou-me até o hotel. Tomei um banho
rápido, e decidir voltar para ver se o encontrava de novo, e dessa vez faria o
que ele havia pedido, somente para analisar a reação. Gosto de olho no olho. Retorno em vão, ele não estava mais lá. Subi e
desci toda a Passarela do Álcool ( ponto
alto de Porto Seguro) não o encontrei.
Que lição eu tiro dessa experiência? Se aquele homem foi
enviado por Deus para me testar, perdi no teste. Neguei-lhe o pão, alimento que ele precisava
naquele momento. Fiz a barganha, ofereci
o dinheiro. E quantas vezes fazemos isso? Achamos que o nosso dinheiro
substitui um gesto solidário? Se foi
golpe, deu certo, mas não me compete julgá-lo.
E foi o que passei para o meu filho quando retornei e contei a experiência que tive.
E a vida é assim, nem sempre teremos uma segunda chance. Se
tivermos a chance de fazer o bem, façamos
já, não deixemos para amanhã. As circunstâncias mudam, as coisas não estarão da mesma forma que
antes.
“Não quero dinheiro!”
pode ser a frase mais boba dessa
sociedade capitalista e egocêntrica, tudo que fazemos
precisamos do dinheiro, mas quando descobrimos que a paz é melhor que a guerra,
posso imitar aquele ilustre desconhecido, afinal, cada qual que defenda o seu
pão de cada dia: Eu também não quero dinheiro!
Apenas ouça, por favor! Eu quero
que você compre um livro de minha autoria... Por que isso nunca funcionou comigo? É discriminação, sabia?
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