sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O Narrador* ( poesia)

Elisabeth Amorim






Benjamin veio me avisar
O narrador está morrendo
Igual a Nikolai Leskov não há
O que estão escrevendo?
Narrativa clássica, onde você está?!
A narração está se perdendo.

Leskov  sim, é um grande narrador
Seus textos não precisam de explicação
Ele é sábio, mestre, magistral, conhecedor
Sinto a  sabedoria  em extinção
Se quiser presenciar um momento constrangedor
Mande um grupo relatar uma narração.

Narrador tem origem popular
Seja  o marinheiro comerciante ou o camponês sedentário
Tinha sempre algo bonito para contar
E cumpria com maestria o itinerário
E na roda de amigos  as aventuras narrar
As histórias com toque poético do imaginário...

A grande "arte de narrar"
Definhando, definhando, morrendo...
Leskov, Nodier, Hebel... venham nos salvar
Vejam como estamos vivendo,
Precisamos da narrativa preservar
Para termos histórias para contar.


 “Tudo está a serviço da informação”
O romance também é culpado
Pela morte da narração
O fato vivido não é mais comunicado
Que triste situação!
 Walter Benjamin deixou esse recado.




                        * Texto desmontado do ensaio “O Narrador”,  de Walter Benjamin. 
      DESMONTAR para divulgar, aproximar, informar, promover a leitura em outro gênero, e claro, preservar a autoria do texto original.





sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Único amor (conto)

Elisabeth Amorim

*

Talvez você nem se lembre mais de mim... pensava  Índia, olhando tristemente um pequeno broche que trazia muito bem guardado  na sua caixinha de jóias preciosas.  E volta às lembranças daquele passado tão distante, porém  presente na sua vida...
Estava chovendo forte, não tinha nenhuma vontade de sair daquela cama, ainda mais que estava vivendo aquela doce aventura de inverno. Encontrou  João Lucas, e foi amor à primeira vista. Tinha tudo para dar certo, mas o medo de sofrer foi maior do que o de ser feliz...  Olha para João e sorri satisfeita. Ele retribui, mas  os olhos tristes, Índia logo interroga:
_O que foi, meu amor? Por que essa carinha triste?
João Lucas para  por alguns segundos antes de respondê-la:
_ Você está se esquecendo que hoje é a nossa última noite?
Índia sorri. Como poderia se esquecer olhando constantemente para o relógio? Ela sabia que as férias tinham prazo de validade,  e do outro lado do mundo outra vida a esperava. Não queria pensar naquilo, pois a  deixava triste. Disfarçava as lágrimas e disse:
_ Não me esqueci.  Mas já conversamos sobre isso. Foi bom, mas temos a nossa vida que não é exatamente aqui...Você também está tão envolvido quanto eu  com o seu mundo fora daqui. ( sorri nervosa, passando a mão pelos  longos cabelos)
_Sei.  Mas será que você não poderia remarcar a sua passagem para mais um dia? E se eu for depois atrás de você? Posso jogar tudo para o alto e tentar viver lá, quem sabe...
_Não! Não vamos precipitar as coisas.  E a sua vida? E os seus negócios?  Seus filhos?  E a sua ex- mulher é muito atuante em sua vida... Você sabe do que estou falando, sua vida está confusa...
João Lucas coça a cabeça, visivelmente nervoso. Ele sabia que Índia tinha razão.  A sua vida estava atada a muitos nós, porém e etc.  Não seria tão fácil assim resolvê-la  fugindo das responsabilidades . Mesmo assim, insiste:
_ Eu estou disposto a correr todos os riscos por você!  Não vá! Fique comigo, esqueça o que deixou do outro lado dessa porta! Fique comigo e a farei feliz...
 Lágrimas traiçoeiras ameaçavam, Índia sabia que ele faria mesmo. Sabia que aquele homem era uma espécie rara. Capaz de acordá-la com um beijo pelo simples prazer de vê-la sorri.  Aquele momento era mágico, ele queria uma decisão e ela não sabia o que fazer, simplesmente disse:
_ Desculpe-me, mas não posso, você sabe que eu não posso!
João Lucas soca a própria mão.  Sabia o quanto Índia estava sendo sincera.  Com certeza o filho dela não iria aceitar aquela relação. Da mesma forma que seus filhos também não aceitaram. Ele tentou falar com ela  que filhos são como flechas lançadas para o mundo, e nada que ela fizesse poderia modificar a trajetória deles após  o lançamento,  adultos, cada qual seguirá a própria vida. E a  chantagem emocional do passado  cairá por terra, restará apenas a solidão.
Índia volta ao presente, seca as lágrimas, guarda carinhosamente aquele presente comprado num camelô qualquer.  E diz para si mesma.
_ Meu amor, meu único amor. Você tinha razão...
Apaga a luz e volta sozinha para cama.



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* imagem da internet, apenas ilustrativa, caso você saiba autoria, avise-nos que daremos os créditos. 

sábado, 17 de outubro de 2015

O sapo que não virou príncipe (infantil)

Elisabeth Amorim



Era uma vez uma linda princesinha, seu nome era Fantasia.  Fantasia vivia no mundo da lua por  causa das historias  contadas pela sua avó, carinhosamente chamada pela neta de Mãe Rainha.  O seu mundo era cercado de fadas, duendes e muitos príncipes encantados.
Certo dia Fantasia estava próximo ao lago e percebeu um sapinho numa pedra.  Ela olhou,  sorriu, logo  percebera naquele minúsculo anfíbio uma coroa. Pronto, levaria-o  para  o seu castelo, pois aquele príncipe não poderia ficar ali, contrariando aos  familiares que não conseguiam enxergar a  tal coroa. E os conselhos surgiram de todos os lados:
_Fantasia, pense bem. Esse sapinho não irá se acostumar fora d’água.  E ele não é príncipe. São seus olhos. Devolve-o para o lago!
_ Menina, sapo não vai se acostumar com a sua vida de princesa. Acorde!
_ Fantasia, cada animal pertence ao seu reino, você não pode modificar essa ordem…
Ela sorria e ficava preocupada, pois estava lá a coroa naquele sapinho, mas  ninguém a notava. Com tranquilidade respondia:
_ Fiquem tranquilos, amigos. Esse sapinho é um príncipe!
Levou o sapinho para seu quarto, mas a transformação não aconteceu, percebera que ele parara de coaxar.  Depois o levou para  a cabeceira da cama numa vasilha com água, o sapinho adormecia  triste ao lado de Fantasia. Noite após noite…
E o tempo passava lentamente, Fantasia  vigiava o sapinho a espera de uma mudança radical naquela vida de sapo. Ela sabia que ele era diferente pois ela também era especial, e os diferentes se identificam  à distância.    Até que numa noite foi acordada com um lamento:
_Croc! Croc! Croc! Croc!
Que susto! Na sua cama havia um sapo enorme com  os olhos tristes.  E  duas lágrimas escorriam!
_Mamãe! Tem um sapo chorando e pulando na minha cama!
A mãe  de Fantasia era a Sra. Sabedoria, tranquilamente esperava por esse momento para dizer-lhe:
_ Fantasia, nós te avisamos que aquele sapinho recolhido do lago não era diferente dos demais…  Ele só fez crescer um pouco mais… Vamos retirá-lo do seu caminho.
Fantasia tentava retrucar, pois ela sabia que o sapinho estava pedindo socorro…
_Mas mamãe… O sapinho está triste. Mas ele é um príncipe, sim!
Dona Sabedoria não quis mais argumentar com Fantasia. Cada uma na sua certeza absoluta não aceitava intervenção.  Tratou de devolvê-lo ao lago, antes que a jovem mudasse  de ideia e persistisse   em acreditar que   “sapo vira príncipe”.
À distância Fantasia observava a festa que os outros sapos  fizeram com a chegada daquele sapo tão feio. E pode ouvir de um Sapo Rei  para  a sua parceira:
_ Minha Rainha, alegre-se, nosso príncipe voltou!
E naquele ambiente tão natural e familiar, o sapo foi abraçado pelos seus. Sorrindo, Fantasia pensou em falar com sua mãe o que ouvira, mas ela não iria entender, guardou para si e voltou  feliz  para o seu castelo no Mundo da Fantasia.

                                   * imagem do google.

domingo, 11 de outubro de 2015

Tubarão Mau-Mau (infantil)

                                                                                     Elisabeth Amorim

*

Sou  Tubarão Mau-mau
Não consigo amigo encontrar
Por conta da minha fama
Que ataco sem pensar
 O banhista desavisado
Ignora as placas  para se afastar.
 

A Segurança Pública  informa
Esse mar é perigoso
Não entre na água, tome cuidado!
Não acabe com o seu gozo
Tubarão Mau-mau  está na área
Seu ataque é venenoso.

Mesmo com todos os alertas
Teimosinho e Vacilão
Turistas com bolsos cheios
Mas com pouca imaginação
Caem na água destemidos
Pois só pensam em curtição.
 

Teimosinho dá apenas um mergulho
Atrás dele, Vacilão
Estavam sendo observados
Por Mau-mau, o tubarão
Não leram as placas de advertência...
Será que não gostam de proteção?

 

Vou afastar esses bobinhos
Antes que a minha família tubarão
Venha fazer um banquete
Antecipando o São João
Darei apenas uma mordida
Naquela  saborosa mão.

A mordidinha da fera

É algo arrasador
Vacilão perdeu o braço
E de dor desmaiou.
Teimosinho se desespera.
A procura de um doutor.


 

Daquele dia em diante
Os dois aprenderam uma lição
Todas as placas devem ser lidas
Para não trafegarem na contramão.
Quem ignora as advertências
Não foge de uma colisão.


 
 “ Não pise na grama!”
 “Área de proteção!”
“Proibido fumar!”
“Cuidado! Tubarão!”
Quando todos obedecerem
Teremos mais saúde e educação!

                                                                  Elisabeth Amorim/2013

* imagem pessoal, ornamentação de uma barraca de praia em Aracaju/SE

sábado, 10 de outubro de 2015

Infância em fuga ( poesia)

Elisabeth Amorim

*


Onde está a nossa infância?
Deixe eu ser criança
Não me encha de atividades fúteis
Uma aliança ou  vingança?
Geração  computador
Não somos coisinhas inúteis.
Somos crianças!
Sou criança!
Quero ser a esperança.
Respeite a minha idade, por favor.

***
-Quero brincar com o meu cãozinho
Correr livremente  sem repreensão
Sujar a roupa, e daí?
Tocar o arco-íris
Fazer rabisco no chão
Andar feito  mula-sem-cabeça
Chocando-se aqui e ali
Fazer aviãozinho…
Zum…Zum…Zum…
Encontrar o sapato para o meu pezinho.
***
“Quem irá me socorrer?”
Estou em busca da infância
Saiu em fuga outra vez…
Você a viu passar por aí?
Vou contar:
-Um, dois, três…
                                                              * imagem da web


Bahia/2015

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Isabelle ( poesia)

Elisabeth Amorim



Toda criança feliz
 Onde chega é luz
Seu sorriso  nos seduz
E sempre pedimos bis.

Toda criança precisa ser amada
Ir para a escola e com amigos brincar
Conhecer na prática o verbo amar
Para sentir-se confortada.

Isabelle é uma florzinha
Que nasceu no meio do jardim
Como um anjo querubim
Linda como uma princesinha.

Oh, doce flor!
Seja sempre perfumada,
Protegida  e abençoada
Por Jesus, Nosso Senhor!


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12 de Outubro, Dia das Crianças!

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Oração infantil

Elisabeth Amorim


Querido Papai do Céu,
Hoje eu me comportei  muito bem
Não briguei  com nenhuma outra criança
Nem  xinguei ninguém.
Fui uma criança boazinha
Então, Papai do céu
Será que posso te pedir um presente?
É um presente bem pequenininho...
É porque o Dia das Crianças, toda criança quer  brinquedo
Mas eu não quero, não!
É verdade, Papai do Céu.
No lugar do brinquedo, queria...
Queria que o mundo pudesse dormir em paz.
É... Paz, sabia?
Não deixe os homens ficarem brigando uns com os outros,
Não deixe não, Papai do Céu.
Eu não sei por que as pessoas grandes gostam  de confusão
Proteja a minha família,
Proteja meus irmãozinhos,
Proteja todo mundo, Papai do Céu
Todo o mundo, tá  me ouvindo?
Agora vou dormir, certo?
Não se esqueça...
Todo mundo precisa de paz.
Paz.
Amém.


Brincadeira infantil ( poesia)

Elisabeth Amorim
*


Não há tempo para cantiga de roda
Nem   o cravo  briguento  restou
Hoje os pais enfrentam uma grande prova
O filho e o seu parceiro computador.

Oh, que saudade da infância
 Da queima  de calorias
Onde a alegria tinha relevância
As crianças com frequência  sorriam.

A diversão está se transformando
Em obesidade  fatal
Enquanto os jogos de comando
Encarceram as crianças na batalha final.

A criança precisa  correr
 Ser feliz para comemorar
A brincadeira infantil numa área de lazer
“Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar...”




* Ivan Cruz, Brincando de roda. (disponível na web)

sábado, 3 de outubro de 2015

SEM CORRENTES


Sem correntes (soneto)

*

Quando fui açoitada por prazer
Tu zombaste da minha dor
Negou-me o direito de refazer
A minha vida que se despedaçou.



Primeiro insistiu em me mutilar
Quando o patrão se encantou por mim.
Para ele não ter o que apreciar
Em uma negra com cheiro de jasmim.


Quantas vezes me acorrentou despida?
Na doce ilusão de se vingar
Nem percebeu a   corrente rompida...


Meu espírito livre voou até o céu
Lá meu anjo sem preconceito de cor
Carrega-me no colo com amor.


                                                     Elisabeth Amorim

* Fabiano Rocha, Essência negra 2 -  

Literatura de mainha 6 - Afirmação de identidades

 Mais um vídeo para você prestigiar.  Textos básicos; O sapo - Rubem Alves O sapo que não virou príncipe - Elisabeth Amorim