Elisabeth Amorim
*
Talvez
você nem se lembre mais de mim... pensava
Índia, olhando tristemente um pequeno broche que trazia muito bem guardado
na sua caixinha de jóias preciosas. E volta às lembranças daquele passado tão
distante, porém presente na sua vida...
Estava
chovendo forte, não tinha nenhuma vontade de sair daquela cama, ainda mais que
estava vivendo aquela doce aventura de inverno. Encontrou João Lucas, e foi amor à primeira vista.
Tinha tudo para dar certo, mas o medo de sofrer foi maior do que o de ser feliz... Olha para João e sorri satisfeita. Ele
retribui, mas os olhos tristes, Índia
logo interroga:
_O
que foi, meu amor? Por que essa carinha triste?
João
Lucas para por alguns segundos antes de
respondê-la:
_
Você está se esquecendo que hoje é a nossa última noite?
Índia
sorri. Como poderia se esquecer olhando constantemente para o relógio? Ela
sabia que as férias tinham prazo de validade,
e do outro lado do mundo outra vida a esperava. Não queria pensar
naquilo, pois a deixava triste.
Disfarçava as lágrimas e disse:
_
Não me esqueci. Mas já conversamos sobre
isso. Foi bom, mas temos a nossa vida que não é exatamente aqui...Você também
está tão envolvido quanto eu com o seu
mundo fora daqui. ( sorri nervosa, passando a mão pelos longos cabelos)
_Sei.
Mas será que você não poderia remarcar a
sua passagem para mais um dia? E se eu for depois atrás de você? Posso jogar
tudo para o alto e tentar viver lá, quem sabe...
_Não!
Não vamos precipitar as coisas. E a sua
vida? E os seus negócios? Seus filhos? E a sua ex- mulher é muito atuante em sua
vida... Você sabe do que estou falando, sua vida está confusa...
João
Lucas coça a cabeça, visivelmente nervoso. Ele sabia que Índia tinha razão. A sua vida estava atada a muitos nós, porém e
etc. Não seria tão fácil assim
resolvê-la fugindo das responsabilidades
. Mesmo assim, insiste:
_
Eu estou disposto a correr todos os riscos por você! Não vá! Fique comigo, esqueça o que deixou do
outro lado dessa porta! Fique comigo e a farei feliz...
Lágrimas traiçoeiras ameaçavam, Índia sabia
que ele faria mesmo. Sabia que aquele homem era uma espécie rara. Capaz de
acordá-la com um beijo pelo simples prazer de vê-la sorri. Aquele momento era mágico, ele queria uma
decisão e ela não sabia o que fazer, simplesmente disse:
_
Desculpe-me, mas não posso, você sabe que eu não posso!
João
Lucas soca a própria mão. Sabia o quanto
Índia estava sendo sincera. Com certeza
o filho dela não iria aceitar aquela relação. Da mesma forma que seus filhos
também não aceitaram. Ele tentou falar com ela
que filhos são como flechas lançadas para o mundo, e nada que ela
fizesse poderia modificar a trajetória deles após o lançamento, adultos, cada qual seguirá a própria vida. E a chantagem emocional do passado cairá por terra, restará apenas a solidão.
Índia
volta ao presente, seca as lágrimas, guarda carinhosamente aquele presente comprado
num camelô qualquer. E diz para si
mesma.
_
Meu amor, meu único amor. Você tinha razão...
Apaga
a luz e volta sozinha para cama.
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* imagem da internet, apenas ilustrativa, caso você saiba autoria, avise-nos que daremos os créditos.