sábado, 22 de abril de 2017

Ovelhas dispersas ( crônica)


     Recentemente mensagens de alertas contra uma tal  “baleia” que está “engolindo” os jovens não param de chegar nos grupos de whats app. Conforme  relatos e  noticiários dos telejornais, adolescentes de alguns países, inclusive do Brasil,  resolveram participar de jogos virtuais perigosos e as consequências são fatais, levando-os as mutilações suicidas. Que  lamentável! Em pleno século XXI, jovens com um mundo de informações a seus pés,  trilham pelo submundo da internet.
      Quem de nós não passou por uma fase ruim na adolescência que atire a primeira pedra?  Quem nunca sentiu falta de um carinho? Nem por isso deixamos de honrar pai e mãe, nem esquecer os ensinamentos que eles nos passaram.  O grande Caetano Veloso na música “Sozinho” já anunciara:  “ Por que você me deixa tão solto?/ Por que você não cola em mim?/ ...Um carinho às vezes faz bem.../Estou me sentindo muito sozinho...” Infelizmente, a nova geração está cada vez mais sozinha, solta, apesar de estar cercada de aparelhos tecnológicos que ditam as regras do jogo  para uma multidão de seguidores. Onde estamos falhando?!
     Valores éticos, condutas morais são ensinados e construídos no dia-a-dia, ações práticas ensinam bem mais do que ficarmos na velha teoria.  Uma caneta diferente na minha casa eu buscava  saber a origem,  porque educar tem que ser para uma vida. E sem diálogo, a educação está condenada a fracassar. Não poderia falar de ética sem dar exemplos éticos, um troco errado, por exemplo, teria que ser devolvido, uma fila teria que ser respeitada, nada de procurar burlar o sistema. Fiz meus filhos seguidores, com muito orgulho.
         O livro “Os sertões” de Euclides da Cunha  relata sobre a Guerra de Canudos e  a forte influência de um beato chamado Antônio Conselheiro na vida de sertanejos pobres. Será que Antonio Conselheiro não era uma velha baleia disfarçada de religioso  que abocanhou uma multidão de seguidores  no sertão baiano  levando-os  para a morte?  Eram homens, mulheres e idosos famintos, sedentos, rotos, desabrigados  e decepcionados com o sistema político brasileiro, por isso caminharam sertão afora em busca de um local digno para se morar. E hoje? Nossos jovens bem alimentados tem sede de quê? Caminham para onde? Mesmo cercados de informações, marcham desinformados, obedientes como ovelhas à caminho do matadouro.  
          Onde estão os sonhos? Para viverem perigosamente, jovens colocam a própria vida em risco, ultrapassando todos os limites da prudência.   E sabe quem impõe um limite ao jovem? É a família. Pai, mãe,  avós... Eles estão mais próximos e precisam enxergar o que os filhos carregam nas “mochilas”, e o mais importante, de que forma eles (pais) contribuíram para torná-la mais leve ou pesada. Se a família entregar a criança ou jovem aos cuidados do computador, poderá não tê-la(o) nunca mais de volta ou resgatá-lo  “deletado”, agindo feito  máquina também.
         Jovens que não sabem a direção a seguir, qualquer caminho serve. Os desencontros na caminhada são consequências de uma geração que grita liberdade de expressão, liberdade sexual, mas como ovelhas seguem fiel e silenciosamente para o matadouro.  É mais um jogo que testará a sua liberdade de desligar ou não o aparelho, de mudar ou não de opção de leitura, porque se a sociedade não tivesse parido  “as baleias coloridas”,  qualquer outro mamífero faminto à espreita de um alvo fácil iria se levantar para mamar. Alimentá-los ou não, também é opção.
            Os perigos da internet não são virtuais, são reais.  Há tantas formas de testar o  potencial, a leitura é uma delas. Em vez de espalhar vírus, montagens com fotos de  políticos,  espalhe literatura, compartilhe textos saudáveis, você não precisa curar o mundo, basta curar a si mesmo. Esse é o primeiro grande passo.  E o segundo passo? Há uma grande chance de você gostar de literatura digital a ponto de tornar a leitura um vício e  voltar aqui outra vez...


                                      Elisabeth Amorim

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